Viveiros em foco
06/05/2010, por ArtCom Assessoria de Comunicação
Marlene Simarelli e Isabella Monteiro
O curso, patrocinado pelas empresas associadas Bejo, Clause, Feltrin, Isla, Incotec, Sakata, Seminis De Ruiters, Syngenta e Takii, contou com cinco palestras, além de uma mesa redonda, que promoveu o debate sobre aspectos legais e de sanidade, bem como desafios e tendências principalmente do mercado de hortaliças.
Formado, em sua maioria, por viveiristas que já atuam no mercado de hortaliças, o evento também contou com um público de empresas atuantes no segmento de flores e ornamentais e outros; profissionais que pretendem atuar na área de produção de mudas, além de profissionais e empresas ligados ao setor, na área de produção ou comércio de sementes e de outros insumos utilizados na produção de mudas. Ao todo foram 40 participantes, de várias regiões do país.
Legislação
O evento teve início com a apresentação de duas palestras voltadas à orientação sobre as principais legislações do setor na área de mudas. Os palestrantes receberam informações e puderam esclarecer suas dúvidas sobre a legalização da produção e comércio de mudas, perante o Ministério da Agricultura, através da inscrição no RENASEM, com a palestra da fiscal federal agropecuária, Rosangele Gomes, responsável pela área de fiscalização de sementes e mudas da UTRA _Campinas/MAPA. Em complemento, foi apresentada uma palestra sobre legislação de defesa fitossanitária na produção e comércio de sementes e mudas, pela fiscal federal agropecuária do Serviço de Sanidade Agropecuária – SEDESA/DT-SP, Rita Lourenço.
Também foram abordados no evento os aspectos legais da empresa viveiro, e a diferenciação, apontando prós e contras, do registro como pessoa física ou jurídica, através da palestra de Francisco de Assis Garcia, assessor jurídico da ABCSEM, advogado da Garcia, Fernandes & Advogados Associados.
Gerenciamento: profissionalização
A gestão de pessoas como ferramenta de crescimento sustentável do negócio, foi o tema da palestra ministrada por Raquel Kussama, especialista na área de consultoria de recursos humanos e estratégias de empresas voltadas à gestão de pessoas, com foco no agronegócio, área na qual atua há 15 anos.
Com o objetivo de capacitar os viveiristas para o melhor gerenciamento de suas empresas, a palestra abordou a gestão de pessoas como uma ferramenta essencial que as empresas dispõem para avaliar os seus profissionais, dentro do conceito de competências (técnica, comportamental, emocional, espiritual ou humana e overtop – conceito novo mundialmente e que ainda não tem uma tradução; o overtop reflete a capacidade de transcendência do profissional que sabe usar as quatro competências para criar uma energia e superar a dificuldade.), e viabilizar, por meio da prática destas, resultados bastante eficientes.
Sobre sua palestra, a consultora destaca que “o objetivo foi trazer ao pequeno produtor a real necessidade da gestão de pessoas para enfrentar os desafios, pois de acordo com minha experiência no agronegócio, esse conceito está muito forte e difundido nas empresas multinacionais, mas o pequeno produtor, embora vivencie esta dificuldade, ainda não consegue teorizar isso. Trabalho bastante com revendas, distribuidores e varejo, e a partir daí é possível fazer um mapeamento de como a cadeia produtiva está funcionando. E, neste sentido, o viveirista terá que passar pelo processo de profissionalização, e dentro da gestão empresarial vai ter que se preocupar com a gestão financeira, a gestão estratégica de negócios e inevitavelmente a gestão de pessoas”, pondera Raquel Kussama.
Tendências de Mercado
Um aspecto muito abordado durante o debate da mesa redonda “Tendências e Perspectivas do Mercado de Hortaliças” foi a questão da segurança alimentar, principalmente no que se refere à horticultura. Uma preocupação que tem se tornado cada vez mais presente nos hábitos do consumidor e, consequentemente, demandado ações por parte de toda a cadeia produtiva: das empresas de sementes, passando pelos viveiristas e produtores, e chegando até as redes de varejo.
De acordo com Hélio Nishimura, consultor de FLV (frutas, legumes e verduras) há 9 anos do Grupo Pão de Açúcar, que falou sobre a importância da rastreabilidade para o segmento, “o conceito de alimento saudável se tornou uma exigência de mercado e, por isso, é preciso investir sempre mais em alimentos com certificação de origem e qualidade, uma preocupação constante do Grupo”.
Cyro Cury Abumussi, proprietário da Fazenda Ituaú, especializada na produção de mini legumes e hortaliças especiais, indicou, como produtor e consumidor ser “fundamental que os viveiristas rastreiem as mudas, o que valorizará a credibilidade e confiança junto ao produtor, que, por consequência, despertará a fidelidade de consumo dos clientes”, quando palestrou sobre a lei da oferta e da procura, avaliando as tendências de mercado e seu reflexo no controle da produção de mudas.
Considerando a importância da aplicação segura de agrotóxicos na produção de hortaliças e frutas, foi debatida ainda a questão dos orgânicos, no aspecto “tendências do mercado de hortaliças”. Hélio informou que, de acordo com uma pesquisa realizada pela rede Pão de Açúcar, para saber o que as pessoas conceituavam como um produto orgânico; dentre as várias opções, cerca de 75% dos pesquisados responderam que “orgânicos são os produtos sem agrotóxicos”, mostrando que esta é uma preocupação cada vez mais crescente do consumidor.
Mas, segundo o consultor, embora a taxa de crescimento do orgânico seja de 35% ao ano na rede, ainda há falta deste produto no mercado. “No Pão de Açúcar, por exemplo, de todos os produtos comercializados, apenas 2% são orgânicos, sendo que os 98% restantes são convencionais, porém monitorados e certificados. Mas, destes orgânicos, cerca de 80% correspondem ao segmento de FLV, sendo 20% correspondentes a carne, leite e derivados”. De acordo com ele, a rede fatura cerca de R$ 50 milhões ao ano, apenas com a venda de orgânicos.
Já Marcio Nascimento, consultor de Relacionamento Institucional da Abcsem, falou das tendências do mercado de sementes, cuja previsão é de aumento nos preços do valor unitário, devido aos grandes investimentos das empresas em pesquisas, visando o melhoramento genético e resistência das sementes a doenças, que resulta em maior valor agregado. Reflexos da tecnologia de produção de mudas, outra tendência de mercado indicada no evento. Ele aponta ainda que o setor precisa de maior organização e estrutura para alavancar ainda mais o crescimento da produção de hortaliças no Brasil, para atender a também crescente demanda por hábitos alimentares mais saudáveis. Considerando que em 2001 foram produzidas cerca de 11,5 milhões de toneladas de hortaliças no país, já em 2010, este número quase dobrou, chegando a 19,3 milhões de hortaliças; conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que constam no site da Embrapa CNPH.
Novos eventos: foco na capacitação e orientação do setor
O presidente da Abcsem, Luis Eduardo Rodrigues, encerrou o evento, agradecendo a participação dos palestrantes que contribuíram com conhecimentos técnicos e de mercado, bem como, dos viveiristas, que partilharam suas dificuldades, dúvidas e experiências, colaborando assim para a qualidade e profissionalização dos viveiros.
A coordenadora executiva, Mariana Ceratti, informou que a Abcsem está organizando novos eventos de capacitação para o próximo semestre, sendo o foco de um deles, já confirmado, sobre controle de pragas e doenças em viveiros, em parceria com pesquisadores do Instituto Biológico de São Paulo.
A opinião de quem participou
Confira abaixo alguns depoimentos sobre o curso.
“Estamos há 21 anos no mercado de produção de mudas e de flores. Já conhecíamos a Abcsem, mas através deste curso, sentimos a real necessidade de nos associarmos. É o primeiro evento que participamos promovido pela entidade e senti muita organização, profissionalismo, objetividade nos temas, palestrantes bem escolhidos. Embora seja muito difícil para nós, como empresários, dispor de um tempo para isso, senti que foi um dia muito bem aproveitado. Estou muito satisfeito!”
Mauricio João Mattar – Ricaflor Mudas de Flores, Arthur Nogueira/SP
“Vim ao curso por recomendação de um amigo. Para mim foi muito importante, pois esclareceu muitas dúvidas que eu tinha dentro da própria legislação de produção de mudas, como também sobre a forma de organização da empresa. Gostei muito da parte que abordou o consumidor final, que era uma visão que eu não tinha, de empresas como o Pão de Açúcar, que apresentou importantes considerações sobre o assunto através de seu palestrante.”
Silvano Cabral Xavier – Casa do Campo, Camocim de São Felipe/PE
“O objetivo de participarmos do curso é nos manter informados e atualizados. Na região norte do Paraná, onde atuamos, não há nenhum viveiro, então foi importante também para realizarmos um intercâmbio com outros viveiristas, conhecermos fornecedores, principalmente de sementes. Acompanhamos esse evento desde a primeira edição. Embora haja questões que não possam ser aplicadas imediatamente, um pouco futuristas, mas é importante estar inteirado sobre o assunto e conhecer a atuação da Abcsem, que trabalha na defesa dos nossos interesses.”
Gabriel Kiiti Takashi – Mudas Londrina, Ibipora/PR
“É a primeira vez que estamos participando do curso, mas gostei muito, atendeu às minhas expectativas, já estou animada com os próximos eventos. E foram interessantes os diálogos, principalmente a mesa redonda, que foi bastante esclarecedora. Além de toda a parte de legislação, pois estávamos muito perdidos com a falta de informação. Neste sentido foi excelente.”
Isabel Ioko Yamagushi – Viveiro Isabel, Atibaia/SP
“É a primeira vez que participamos. Viemos porque estamos no processo de sair só da parte de comercialização de sementes e, para agregarmos valor, queremos investir na produção de mudas. Conseguimos obter muitas informações que serão bastante úteis neste novo processo. O curso foi muito válido.”
Heraldo Luis Souza – HF Comércio e Representações, Guanambi/BA
“As informações tratadas no encontro são cruciais para nosso negócio, pois o produtor muitas vezes não tem acesso ou mesmo não se informa, pela questão cultural. A palestra sobre Recursos Humanos foi muito interessante, já que a maioria desconhece o assunto e muitos pensam que isto interessa apenas às empresas de grande porte. A palestrante mostrou que todo segmento e qualquer empresa pode ser beneficiada. Em todas as palestras, a linguagem usada foi bastante interessante e acessível aos produtores.”
Marcos Gonçalves Gomes – Mudas Agromonte, Monte Alto/SP